SEMANA DA INCONTINÊNCIA URINÁRIA
14 a 21 de Março de 2011
Esta semana assinala-se o tema da Incontinência Urinária, um assunto muito importante mas diversas vezes esquecido. A incontinência urinária (IU) é definida como a perda involuntária de urina e é uma patologia com elevada prevalência. Nos EUA, os estudos apontam para uma prevalência de 35%, superior à de patologias crónicas, como a hipertensão arterial ou a diabetes mellitus. Em Portugal, a IU afecta cerca de 600 mil portugueses. A prevalência é superior nas mulheres e aumenta com a idade, sendo particularmente comum em mulheres pós-menopáusicas. É uma patologia que condiciona de forma significativa a vida das doentes, já que tem um considerável impacto social. É um problema muitas vezes subdiagnosticado e mal compreendido, cujas queixas as mulheres têm vergonha de expressar.
Por isso, a mensagem essencial deste apontamento sobre IU é, além de informar sobre a doença, alertar para que a IU tem, na maior parte dos casos, cura, pelo que é essencial procurar o seu médico.
Entre os factores de risco para IU encontram-se:
- o sexo feminino
- o parto (sobretudo quando há história de complicações durante o parto ou casos de recém-nascidos grandes)
- obesidade, tabagismo e DPOC - doença pulmonar obstrutiva crónica -, obstipação (aumentam a pressão intra-abdominal)
Para compreender a IU é essencial rever o normal ciclo miccional:
- inicialmente, à medida que a bexiga enche, o músculo detrusor da bexiga relaxa, para poder acondicionar a urina (já que a bexiga é o órgão armazenador de urina), ao mesmo tempo que os músculos da uretra (esfíncteres) e do pavimento pélvico contraem, para evitar as perdas urinárias
- quando surge a sensação de preenchimento da bexiga e consequente vontade de urinar, o indivíduo pode manter a contracção da uretra, de forma voluntária, de forma a esperar o momento mais propício à micção
- durante a micção, o músculo detrusor contrai para forçar a saída da urina da bexiga, enquanto que os músculos da uretra (esfíncteres) e pavimento pélvico relaxam para permitir a saída de urina e, consequentemente, a micção.
E o ciclo repete-se.
No entanto, quando por uma multiplicidade de factores, estes mecanismos estão comprometidos, vão surgir as perdas involuntárias de urina.
A IU pode ser essencialmente de 2 tipos:
Incontinência Urinária de Esforço (49% casos)
- a falha regista-se ao nível da uretra, quando há uma insuficiente pressão de encerramento uretral
- pode ser causada por hipermobilidade da uretra e falta de sustentação desta pelo envolvente pavimento pélvico (na maioria dos casos) ou por deficiência intrínseca do esfíncter da uretra
- as perdas de urina são de pequena quantidade e totalmente inesperadas (não são antecedidas pela vontade de urinar)
- surgem durante o esforço, como a tosse, o riso, o espirro, a marcha, o desporto, ...
- acontecem mesmo quando a bexiga está pouco cheia
- cursam com uma frequência urinária normal (não há um aumento do número de micções)
Incontinência Urinária de Urgência (22%)
- a falha ocorre ao nível da bexiga, quando há uma hiperactividade do músculo detrusor da bexiga
- as contracções involuntárias do músculo detrusor, originam um desejo súbito e incontrolável de urinar
- a pressão intravesical (dentro da bexiga), devido à contracção do detrusor, ultrapassa a resistência do esfíncter da uretra e leva à incontinência
- as perdas de urina são de maior quantidade e, apesar de antecedidas pela intensa vontade de urinar e dor associada, são geralmente imediatas e incontroláveis
- surge de forma espontânea, não associada ao esforço, em posição variável
- a capacidade funcional de armazenamento da bexiga está diminuida
- associada a aumento da frequência urinária de dia (espaços inferiores a 2 horas) e de noite (mais de 2 vezes por noite)
Em alguns casos, surge uma IU mista (esforço e urgência).
Há diversos exames que são úteis para o estudo da IU e para direccionar o tratamento.
O tratamento pode ser médico ou cirúrgico.
No caso da IU de esforço é essencialmente cirúrgico, mas pode também ser auxiliado pelo controlo dos factores que aumentam a pressão intra-abdominal (perder peso, controlar farmacologicamente a tosse, ...), pelos exercícios de Kegel (que fortalecem os músculos perineais) ou pela terapêutica farmacológica com duloxetina (que aumenta a contracção do músculo da uretra).
Na IU de urgência, o tratamento visa diminuir não só a incontinência propriamente dita (as perdas involuntárias de urina) como diminuir a frequência urinária. O tratamento de 1ª linha é sempre não cirúrgico e passa pela modificação comportamental (evitando passar muitas horas sem urinar, diminuindo a ingestão de água, prevenindo infecções urinárias, realizando os exercícios de Kegel) e pela terapêutica farmacológica (mais frequentemente com anticolinérgicos - exs: "Ditropan", "Detrusitol", "Urispas" -; mas também com alfa-adrenérgicos). Nos casos refractários à terapêutica, terá de se optar pelo tratamento cirúrgico.
Como mensagem final: